O Cardo na Quinta da Alameda: a Salvaguarda de Uma Planta Extraordinária

Nos nossos campos, cresce selvagem uma planta de valor excecional. Mas poucos lhe prestam verdadeira atenção. Essa planta é o extraordinário cardo (Cynara cardunculus).

Generoso, todo o cardo se dá em múltiplas aplicações práticas, sejam elas alimentares, industriais, medicinais, agrícolas ou ecológicas. E quando bem aproveitado, o cardo promove a sustentabilidade e a economia circular.


Mais ainda, as alterações climáticas não amedrontam de todo esta planta. Ao contrário de outras espécies, o cardo está muito bem preparado para enfrentar um mundo mais seco, mais volátil, mais quente. E muitos dos nossos afamados queijos não existiriam sem o cardo. Exemplos bem conhecidos são os queijos de Nisa ou da Serra da Estrela.

Assim sendo, dadas as suas vastas qualidades e aplicabilidades, o Instituto Politécnico de Viseu (IPV) cultivou um grande campo de cardos para melhor os estudar. Em prol do território, este foi um trabalho cuja investigação começou há mais de 15 anos sob a orientação do biólogo Paulo Barracosa. No entanto, foi decidido que a área devotada à plantação de cardos deveria ser alocada a outros fins que não o da investigação destas plantas.


Caso não fosse encontrada uma saída, esta decisão poderia colocar em causa todo o trabalho desenvolvido nas últimas décadas. Daí que a Quinta da Alameda tenha assinado um protocolo com o Instituto Politécnico de Viseu para acolher, proteger e estudar milhares destes valiosos cardos do IPV.  

Foi assim salvaguardado um acervo genético raro, precioso e exemplar. Para além de contribuir para a manutenção da biodiversidade na Quinta da Alameda – por exemplo, através da atração de insetos polinizadores e fauna auxiliar – os cardos poderão servir de base ao desenvolvimento de extratos naturais para tratar as vinhas.


De forma mais orgânica, sustentável e amiga do ambiente, estes extratos naturais apresentam potencial para eliminar doenças fúngicas ou bacterianas das videiras. Então, porque não prescindir dos químicos industriais? E porque não integrar o cardo na economia circular, tal como deve ser apanágio hoje? E porque não inovar e criar valor com base nos valores do Dão?

Estas foram as considerações que levaram a Quinta da Alameda a investir na plantação de cardos. O objetivo passou precisamente por dar resposta positiva a estas questões e por preservar um património único assente nos recursos e no trabalho da nossa região. Os cardos irão continuar a florescer. E a ciência também, para benefício de todos.