Decantar ou não o vinho, eis a questão: fique aqui a conhecer todas as respostas sobre este processo que tanto contribui para melhorar os vinhos, bem como os tempos adequados de decantação de acordo com o corpo e as castas utilizadas.
A decantação do vinho é o processo de transferir cuidadosamente o vinho da garrafa original para outro recipiente - chamado decantador - com dois objetivos fundamentais: separar os sedimentos sólidos (borras) que se acumulam no fundo da garrafa e permitir que o vinho ‘respire’ durante um tempo adequado (isto é, para que o vinho entre em contato com o oxigénio, num processo que melhora os seus aromas e suaviza os taninos).
Com o envelhecimento, alguns vinhos desenvolvem depósitos naturais de taninos, pigmentos e outros compostos sólidos. Isto acontece mais frequentemente nos vinhos tintos. A decantação serve para separar o líquido destes resíduos indesejáveis e evitar que alterem a textura e o sabor do vinho.
Por outro lado, ao entrar em contacto com o ar, o vinho liberta aromas e adquire equilíbrio, expressividade e taninos mais suaves. Este processo pode ser especialmente benéfico para vinhos jovens e tintos encorpados (dado que apresentam com frequência taninos mais ásperos).
Os vinhos tintos envelhecidos ou mais encorpados (mesmo os jovens) são os principais candidatos à decantação. Os vinhos mais velhos têm maior quantidade de sedimentos; além disso, podem requerer uma melhor oxigenação para soltar os aromas.
Certos vinhos tintos jovens e encorpados também podem ser decantados para suavizar os taninos e permitir a expressão do perfil aromático; o seu tempo de decantação pode variar de 30 minutos a duas horas, dependendo do vinho.
Os vinhos brancos, rosés e espumantes não precisam ser decantados, em geral, exceto em casos raros de vinhos brancos envelhecidos ou não filtrados.
1. Coloque a garrafa de pé por algumas horas (ou até 24 horas para vinhos antigos) antes de decantar. Isto levará a que os sedimentos se depositem no fundo da garrafa.
2. Depois, abra a garrafa com cuidado para não agitar o líquido.
3. Num movimento contínuo, transfira o vinho lentamente para o decantador; ao mesmo tempo, observe a aproximação dos sedimentos ao gargalo (pode usar uma luz para ajudar). Pare de despejar o líquido assim que as borras começarem a se aproximar da boca da garrafa.
4. Por fim, deixe o vinho repousar no decantador pelo tempo recomendado antes de servir.
Depende do vinho, é claro. Os tintos de corpos leves normalmente não requerem decantação. O mesmo sucede com a vasta maioria dos vinhos brancos, rosé e espumantes. Porém, pode decantar estes vinhos caso apresentem sedimento ou caso queira abrir um pouco mais os seus aromas. Em geral, a decantação de vinhos de corpo leve não deve ultrapassar os 30 minutos. É relativamente pouco usual encontrar vinhos monovarietais tintos cujo corpo seja pouco expressivo. No entanto, castas como a Alvarelhão, Pinot Noir, Espadeiro, Bastardo e Rufete podem ser usadas para este tipo de estilo.
Mas os vinhos tintos de corpo médio já beneficiam de decantação para amaciar taninos e realçar aromas. Em vinhos mais velhos, a decantação serve igualmente para preservar a limpidez e separar os sedimentos. Estes vinhos podem ser decantados até 60 minutos e têm por base castas como a Alfrocheiro, Trincadeira, Aragonez, Castelão e Jaen.
Por fim, os vinhos encorpados mais jovens podem exigir uma decantação mais prolongada para suavizar taninos potentes e expandir aromas complexos. Como expectável, nos exemplares maduros, a decantação também tem como propósito separar os sedimentos. Estes vinhos podem ser decantados durante 60 a 180 minutos (ou mais). Têm origem em castas como Alicante Bouschet, Touriga Nacional, Touriga Franca, Sousão e Baga.
O contacto com o oxigénio é fundamental porque promove reações químicas que libertam e intensificam aromas e sabores antes ‘enclausurados’ no vinho em garrafa. Este contato com o ar permite que compostos indesejados, como os aromas de redução (por exemplo, de cheiro a repolho ou a ‘ovo podre’) se dissipem rapidamente. O que permanece, se tudo decorrer com normalidade, são aromas autênticos da uva e do bom envelhecimento.
Além disso, a oxigenação ajuda a amenizar os taninos e a equilibrar a acidez. Em geral, o vinho fica mais macio, harmonioso e agradável ao paladar. Em vinhos encorpados ou envelhecidos, este processo pode transformar a experiência de degustação ao traduzir maior complexidade e nuances aromáticas que não seriam percebidas sem a exposição ao ar. Bom proveito!